sábado, janeiro 28, 2006

Utilização dos Dejetos de Suínos (parte 2)

Utilização dos Dejetos de Suínos (parte2)

Embora os dejetos possam ser utilizados como fonte de energia e nutriente para outras espécies animais, considera-se mais adequado utilizá-los como fertilizante, pois melhoram as condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de fornecer nutrientes essenciais às plantas. Seu emprego deve ser planejado em função das características do solo, exigências das culturas, declividade, taxa e época de aplicação, formas e equipamentos de aplicação.Os produtores, de uma forma geral, preferem os "adubos químicos", face a menor necessidade de investimentos e maior facilidade de manejo quando comparado ao orgânico. Além disso, no caso dos dejetos, o grande volume produzido na granja, o relevo acidentado e a reduzida área para lavouras, dificultam o seu aproveitamento como adubo. Por outro lado, os investimentos para viabilizar a sua utilização, a exemplo de tratores e tanques distribuidores, geralmente estão muito acima da capacidade de endividamento dos pequenos e médios criadores, levando-os ao despejo contínuo na natureza.O lançamento indiscriminado de dejetos não tratados em rios, lagos e no solo, no entanto, podem provocar doenças (verminoses, alergias, hepatites, hipertensão, câncer de estômago e esôfago). Além disso trazem desconforto à população (proliferação de moscas, borrachudos, mau cheiro) e, ainda, a degradação do meio ambiente (morte de peixes e animais, toxicidade em plantas e eutrofização dos recursos de água). Constitui-se, dessa forma, um risco para a sustentabilidade e expansão da suinocultura como atividade econômica.

A utilização de dejetos suínos na alimentação animal é uma questão bastante complexa e demanda maiores conhecimentos para uma discussão mais aprofundada. Entretanto, essa prática vem acontecendo e algumas considerações são pertinentes.Há referências na literatura internacional, publicadas na década de 70, apresentando desempenhos satisfatórios de suínos alimentados com dejetos da mesma espécie. Entretanto, quando se avaliou, nas condições brasileiras, o valor nutricional de dejetos de suínos processados de diferentes formas, verificou-se que o conteúdo energético e o coeficiente de digestibilidade da matéria seca desses resíduos são muito baixos, inviabilizando um possível uso em rações de suínos. Se dejetos de suínos viessem a ser utilizados na alimentação de outros suínos, mesmo sem considerar as implicações com a saúde humana, haveria sempre o risco de contaminação e disseminação de doenças entre os animais, independente da utilização de dejetos da própria granja ou não.

Com relação aos ruminantes, foram verificados bons desempenhos de bovinos de corte alimentados com dejetos de suínos. Esses resultados são decorrência da capacidade de digestão microbiana dos ruminantes, que os capacita a aproveitar alimentos considerados de baixa qualidade nutricional para os monogástricos. Contudo, não foram realizados estudos sobre a qualidade da carne e das vísceras desses animais do ponto de vista de saúde pública, qualidade nutricional e palatabilidade, o que desautoriza o emprego de dejetos na alimentação animal nos dias de hoje. Mesmo que a questão da qualidade da carne seja contornada, haverá também, indubitavelmente, questionamentos quanto à aceitabilidade de carne desses animais por parte do público consumidor, o que por si só poderá definir o uso ou não dessa prática. Uma preocupação importante é com relação a utilização desses dejetos na alimentação de vacas de leite.

Sabendo-se que a secreção de leite funciona também como veículo excretor de nutrientes, elementos e metabólitos encontrados na dieta, há poucas possibilidades de que o leite desses animais atenda os níveis de qualidade requeridos para o consumo humano. Sem dúvida há necessidade emergente de estudos que esclareçam essas questões e que subsidiem uma ampla discussão do assunto, para que se possa decidir sobre a recomendação técnica dessa prática.

Conclusões

As alternativas propostas a seguir são importantes para que os nutricionistas de suínos, e talvez os nutricionistas que trabalham com outras espécies, possam reduzir o problema da poluição ambiental dos dejetos animais. A maioria delas promove conjuntamente melhoria no desempenho e qualidade das carcaças dos animais além de reduzir, em muitos casos, o custo de produção.

1. Continuar a buscar a melhoria da eficiência alimentar e do aumento de produtividade por produtor, pois estão diretamente relacionados à redução da quantidade de dejetos produzidos.

2. Incrementar o uso de valores de disponibilidade de nutrientes dos alimentos utilizados nas formulações de dietas. Nesse particular, são imprescindíveis novos investimentos em pesquisa com a finalidade de obter valores mais precisos e sua predição por métodos rápidos e de fácil uso pelas indústrias de rações.

3. Melhorar o conhecimento das exigências nutricionais dos suínos, concentrando-se no genótipo, no sexo e nos fatores que afetam o consumo de ração.

4. Formular as dietas com maior precisão, buscando-se o atendimento das exigências nutricionais e evitando-se o uso indiscriminado de "margens de segurança".

5. Reduzir o sal das dietas, de maneira a atender apenas os níveis exigidos de sódio. Formular para sódio e não fixar um valor para sal nas matrizes de exigências durante a formulação das dietas. Essa medida, além de reduzir a excreção de sódio, promove redução do consumo, excreção de água e volume de dejetos produzidos.

6. Empregar o conceito de alimentação em múltiplas fases e sexos separados.

7. Utilizar , dentro do possível, alimentos com nutrientes de alta digestibilidade.

8. Evitar o uso de altos níveis de cobre e zinco como promotores de crescimento e no controle da diarréia.

9. Aumentar o uso de fontes de minerais com maior disponibilidade, como os quelatos orgânicos.

10. Utilizar enzimas nas dietas, desde que apresentem resultados que comprovem a sua eficiência.

11. Utilizar a técnica da restrição alimentar em suínos na fase de terminação.A questão dos dejetos suínos não se constitui apenas num problema que envolve o setor produtivo de suínos. Ela tem interrelação com todas as atividades que de certa forma afetam a qualidade da natureza que temos ao nosso redor. Assim, regiões onde há problemas de emissões de resíduos industriais, alterações no sistema ecovegetal, contaminações da natureza com dejetos urbanos e aqueles produzidos por outras espécies animais podem tornar mais complexo o problema.

Essa questão deve ser tratada amplamente pela sociedade de maneira técnica, sem apegos particulares, visando a qualidade de vida das populações, o atendimento dos anseios do consumidor e o desenvolvimento sustentável de nossa Agricultura.

Fontes: SETI - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

Eng. Agr., D. Sc. Carlos Cláudio Perdomo, Embrapa Suínos e Aves

Eng. Agr., Ph. D. Gustavo J.M.M. de Lima, Embrapa Suínos e Aves

Jornalista Tânia Maria Giacomelli Scolari, Embrapa Suínos e Aves http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?