A AFTOSA E O PRATO DO BRASILEIRO

A aftosa e o prato do brasileiro Embora até o presente momento a crise sanitária protagonizada pela febre aftosa não tenha apresentado nenhum risco à saúde humana — pelo menos não há registro conhecido de tal fato, a não ser o prejuízo econômico —, ela traz à tona o descuido com o bem-estar animal e, conseqüentemente, com o dos consumidores, mais em particular, com o dos brasileiros. Paralelamente à polêmica que insurgiu entre o governo federal e o estadual em relação à questão, e ao fato de Brasil e Argentina torcerem para que a ocorrência da enfermidade se agrave mais em um país do que em outro, a fim de evitar perdas pontuais de mercado e, de modo geral, ampliar a presença, respectivamente, de suas carnes e derivados no mundo, surge uma vertente dessa crise muito mais local e não menos importante. Trata-se da qualidade do produto que consumimos dentro do território nacional. Lamentavelmente, as regras criadas pelo governo federal — voltadas à segurança alimentar e que só podem ser garantidas a partir da adoção do conceito da rastreabilidade pela cadeia produtiva “do pasto ao prato” — só servirão às exigências do mercado externo. Os consumidores brasileiros, ora os consumidores brasileiros... Em termos de mercados externos, as maiores exigências partem da União Européia (UE). O bloco econômico responde por 37% das nossas exportações de carne bovina. O livro branco da Segurança Alimentar da União Européia é bem preciso nas suas exigências. Para os europeus, somente o conhecimento da origem dos produtos, com base na rastreabilidade, permite assegurar o consumo. Cabe lembrar que, em 2005, o Brasil embarcou 2,391 milhões de toneladas de carne bovina (equivalente/carcaça), correspondente a uma receita de US$ 3,149 bilhões. É isto que mobiliza o governo federal e o setor exportador a deflagrarem ações direcionadas à defesa da sanidade animal. Enquanto isso, em terras brasileiras, nós abatemos 45 milhões de bovinos em 2005. Desse volume, estima-se que o nível de operações clandestinas alcance algo em torno de 40%. Embora no Brasil exista uma legislação preventiva voltada a coibir essa prática ilegal — o abate de carne sem inspeção sanitária é crime punível com prisão de até dois anos e multa para quem o fizer para consumo público — é muito raro o registro de alguém que tenha sido preso em virtude disso. Entre os motivos que provocam essa fragilidade no sistema de defesa sanitária animal no País estão os recursos financeiros. Os valores disponibilizados pelos cofres públicos Brasil ficam aquém do necessário para a realização de um controle mínimo de fiscalização.Por sua vez, o Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa) também não consegue estabelecer um fundo para assistir à América do Sul. Vale lembrar que a erradicação da febre aftosa em um país com as dimensões territoriais do Brasil e suas extensas áreas de fronteiras, exige não só controle interno, mas também dos países vizinhos, uma vez que a proximidade é muito grande. De um lado da porteira, solo brasileiro. De outro, pasto uruguaio, argentino, paraguaio e boliviano, muitas vezes, separados por uma simples cerca de arame farpado. Ainda que seja para defender apenas o bom desempenho da balança comercial e dos exportadores nacionais, a questão da biosseguridade — implantação de um conjunto de normas sobre os cuidados necessários para proteger um rebanho da introdução de doenças — é vital para um país que deseja consolidar sua liderança como fornecedor mundial de proteína animal e seus derivados. Afinal de contas, se não conseguimos cuidar da febre aftosa, como poderemos assegurar aos clientes de nossas carnes que temos controle sobre a encefalopatia espongiforme bovina (EEB), conhecida popularmente como “mal da vaca louca”, e a Influenza aviaria, a “gripe do frango”, ambas fatais caso sejam contraídas por seres humanos? Enquanto isso, do outro lado do balcão do açougue, o brasileiro, muitas vezes alheio a todas essas questões, enfrenta fila para garantir o churrasco de domingo. Resta saber até quando as cadeias das carnes continuarão a tratar com desdém o público brasileiro. O certo seria, como pregam os sábios orientais, aproveitar o momento de crise e transformá-lo em oportunidade. Chance de fazer a lição de casa bem-feita desta vez não só para inglês ver, mas para brasileiro também poder saborear. Por: Manoel Henrique Farias RamosVice-presidente FecomércioFederação do Comércio do Estado de São Paulo Fontes: DCI - Comércio Indústria & Serviço http://spaces.msn.com/ambienteemfoco/ |
4 Comments:
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