sábado, abril 08, 2006

VALE A PENA INJETAR IVERMECTINAS PARA BOVINOS EM EQÜINOS?


Vale a pena Injetar Ivermectinas para Bovinos em Eqüinos?

Desde a introdução da ivermectina no mercado veterinário, há mais de duas décadas, a vermifugação e o parasitismo em eqüinos têm sido alvos constantes de inúmeros trabalhos de investigação científica por parte de pesquisadores e parasitologistas em todo o mundo. Entretanto, mesmo com a existência de produtos em formulação pasta destinados exclusivamente para uso em eqüinos, como o Eqvalan®, tem-se verificado uma intensificação no uso de ivermectinas injetáveis para bovinos em eqüinos, tanto pelas vias oral quanto pela intramuscular. A prática é motivada pela tentativa de redução de custos do haras ou da cocheira pelos criadores. Além da relação entre custo e benefício da aplicação desses medicamentos em cavalos não ser favorável aos proprietários, carrega diversos riscos potenciais aos animais.

Em muitas áreas do Brasil, notadamente em Minas Gerais, interior do Rio de Janeiro e no Espírito Santo há forte tendência ao uso desses invermectinas por via oral em cavalos.

Veja os riscos reais desse procedimento:
· Não há garantia de que haja absorção intestinal adequada destas formulações, não havendo conseqüentemente, garantia de eficácia da droga;
· Não há garantia de que as concentrações usadas para bovinos sejam compatíveis em biodisponibilidade com a espécie eqüina, o que pode acarretar sérios riscos de subdosificação;
· Alguns criadores, prevendo a incompatibilidade das concentrações entre bovinos e eqüinos, simplesmente “aumentam” de forma empírica e aleatória a dose injetável utilizada usualmente, podendo causar sobredosificação e desperdício;
· O veículo destes compostos pode ser altamente irritante à mucosa gástrica, levando ao aparecimento de gastrites e lesões erosivo-ulcerativas como as úlceras gástricas;
· Não há nenhuma comprovação científica de eficácia desta prática; o uso por parte de criadores tem se disseminado apenas pelo boca-a-boca, sem o respaldo de trabalhos sérios que corroborem dados de eficácia e segurança.

Em algumas áreas do Rio Grande do Sul, Nordeste e principalmente Centro-Oeste, o uso destas mesmas ivermectinas injetáveis para bovinos pela via intramuscular em eqüinos mostra-se como prática mais comum.

Conheça os riscos dessa prática:·
Não há garantia de que as concentrações usuais para bovinos sejam compatíveis e adequadas para eqüinos em termos de farmacocinética e farmacodinâmica;
· O veículo destes compostos favorece a anaerobiose, expondo o animal a toxemias sérias, clostridioses (há na literatura vários relatos de casos) e morte;
· O veículo destas formulações também pode causar intensas irritações e infecções locais, como estafilococoses purulentas, além de hematomas e fibrose do tecido muscular adjacente;
· Como a formulação não é adequada para emprego em eqüinos, em muitas situações observa-se a não-absorção do produto, havendo a formação de um cisto asséptico ou mesmo abscessos.

Veja as conseqüências da aplicação de ivermectinas para bovinos nos cavalos, seja pela via oral, seja pela injetável:

· Perda da função do membro ou região correspondente ao grupo muscular que recebeu a aplicação intramuscular, com inutilização deste animal para sua atividade usual, seja trabalho, esporte ou lazer;
· Brusca queda de performance, emagrecimento, perda de apetite, irritabilidade e recusa ao trabalho em função de lesões gástricas;
· Aparecimento de resistência parasitária à ivermectina, com recrudescimento da ocorrência de cólicas verminóticas trombo-embólicas e outras patologias correlatas ao parasitismo;
· Perda do direito ao seguro que eventualmente o animal venha a possuir; · Gastos, muitas vezes infrutíferos, com medicamentos na tentativa de recuperar o animal;
· Morte.

Tendo em vista todos os aspectos observados, as relações de custo e benefício e de custo e riscos a que os animais estão expostos, fica evidente que tais práticas não compensam. O custo anual médio de um animal de 400 kg com vermifugação é de aproximadamente R$ 30,00 com produtos específicos para eqüinos. Se forem consideradas as médias dos últimos leilões Mangalarga Marchador, os custos com vermifugação destes animais na maior parte das vezes não ultrapassa 0,2% de seu valor individual em um ano inteiro.

Quando se observa, porém, o valor individual de animais de esporte de alta performance, a realidade fica ainda mais gritante. Os custos para animais de salto, adestramento, CCE, enduro, baliza e tambor, rédeas, vaquejada e marcha facilmente atingem cifras superiores a R$ 50 mil. No caso de cavalos de salto são comuns negócios de US$ 100 mil. Além de todos os graves problemas e prejuízos físicos e econômicos a que cavalos e proprietários estão sujeitos, há ainda o aspecto jurídico.

Uma vez que o uso oral ou injetável de ivermectinas para bovinos em eqüinos também é prática ilegal, caso algum dos problemas já descritos venha a ocorrer, o proprietário do animal estará completamente desamparado pela lei, uma vez que na bula destes medicamentos não há indicação para a espécie eqüina, o que isenta os fabricantes de toda e qualquer responsabilidade civil ou criminal. Por outro lado, veterinários que eventualmente apóiem a iniciativa poderão ser responsabilizados legalmente por proprietários lesados, pelo simples fato de utilizarem produtos “extra-label” sem advertir apropriadamente os mesmos quanto ao perigo em questão. Por fim, há o aspecto de perjúrio frente às companhias seguradoras.

Para que um animal seja segurado pelas empresas existentes no mercado é necessário que o veterinário responsável assine um laudo pericial contendo todas as devidas informações e histórico clínico do animal. Neste relatório constam ainda dados sobre vermifugação e vacinação, que devem contemplar o uso de produtos específicos para eqüinos. Imagine que seu cavalo, segurado em R$ 20 mil, cujo prêmio anual pago foi de mil reais, venha a desenvolver um processo de cólica e necessite ser realizada laparotomia exploratória.

Imagine ainda que este animal morra durante a cirurgia e a necrópsia revele trombo-embolismo verminótico. Certamente os peritos da seguradora investigarão sobre o histórico de vermifugação destes animais e descobrirão o uso de ivermectinas para bovinos injetáveis ou orais. Neste caso, além de não receber o valor do seguro e do reembolso cirúrgico, o proprietário e o veterinário correm o sério risco de serem processados por perjúrio e falsidade ideológica pela seguradora. Utilize sempre vermífugos indicados para a espécie eqüina, produzidos por laboratórios idôneos.

Não exponha seu campeão a riscos desnecessários e injustificáveis. Garanta a sua tranqüilidade quanto à perfeita saúde de seu animal. Henry Berger - Em 1996 graduou-se em Medicina-Veterinária pela Universidade de São Paulo, tendo realizado “internship” no Dubai Equine Hospital, Emirados Árabes, em 1995. De 1996 a 2001, exerceu atividades autônomas em clínica, cirurgia e reprodução eqüina, com ampla ênfase no diagnóstico por imagem. Concluiu mestrado pela Universidade de São Paulo em 1999 e atualmente faz curso de doutorado na mesma universidade, com término previsto para dezembro de 2003. Em 2001, assumiu a Coordenação de Mercado de Eqüinos da Merial, sendo responsável pelas atividades técnicas, comerciais e de marketing da companhia em âmbito nacional neste segmento de negócios.

Sua atual linha de atuação tem sido a gastroenterologia clínica e diagnóstica em eqüinos. É também membro da ABRAVEQ, Associação Brasileira dos Veterinários Especialistas em Eqüinos.
Por: Dr. Henry Berger, médico veterinário e coordenador de mercado de eqüinos da Merial Saúde Animal

3 Comments:

At 9/8/06 08:10, Anonymous Anônimo said...

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At 10/8/06 13:22, Anonymous Anônimo said...

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At 15/8/06 22:34, Anonymous Anônimo said...

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